...E OS PENSAMENTOS ME LEVAM ATÉ LÁ
É a doce sinfonia de pássaros ao amanhecer o dia, que me remete a pensamentos distantes.
Foi numa manhã de janeiro, onde o coração palpitava muito e a alegria se exalava por todo meu corpo.
Aquela sinfonia era tudo que eu queria escutar naquela hora.
O cheiro do café penetrava no quarto simples, com aquela janela enorme, colorida de azul jeans, com as paredes brilhantes, cor de girassol.
Era tudo que eu precisava.
Naquele dia, eu poderia levantar e ter certeza que poderia andar descalça naquela terra firme, poderia
sentir o sol quente na minha pele, poderia sentir o aroma das flores naquele lindo jardim colorido
e ainda, poderia sentar no meu balanço e sonhar com todos os meus desejos.
Poderia pegar todos os insetos que aparecesse e guarda-los, como o maior tesouro da minha vida, dentro daquela caixinha prateada que eu achei nos perdidos da minha tia. .
A casa era grande, tudo era extremo: os quartos, a fartura, o carinho.
A torneira aberta para encher os tanques enormes onde eram lavados os lençóis branquinhos, que por vezes ficavam mergulhados numa água azul da cor daquele céu, onde a espuma que os limpava, voava de vez em quando, enquanto eu brincava com elas.
Aquela manhã era magnífica.
Naqueles dias, eu matava a saudade da liberdade, matava a saudade da felicidade.
Era um momento tão sublime, tão acolhedor, que eu não queria mais viver de outra forma.
Queria estar ali, naquele lugar para sempre.
Foi numa dessas vivências, que eu me ajoelhei no meio do quintal, com aquela terra roxa, empoeirada e quente, e pedi ao Papai do Céu que não me deixasse sair dali.
Me lembro que estava com vestido branco fininho, descalça, com as lágrimas no rosto, se misturando com aquela poeira e eu chorei muito e pedi que não deixasse eu sair dali. Ali estava meu chão, ali estava minha vida, ali estava a minha felicidade e eu não queria ir embora.
As lágrimas desciam como cachoeira, misturando os sentimentos dentro do meu peito e a dor daquele momento me fez colocar as mãozinhas no peito e dizer bem alto a quem quisesse ouvir: está doendo! O peito doía, encharcado de tristeza e dor, e sem um mínimo de esperança, fui arrastada para dentro do carro que me levou de volta para a cidade grande, onde eu ficaria trancafiada, sem ouvir o barulho dos meus pássaros, sem sentir a felicidade de brincar com meus insetos, sem sentir o frescor da minha terra entrando pelos poros do meu corpo.
Uma criança, um casarão e uma família.
Coisas magníficas que só quem viveu, sabe o quanto foi bom.
São lembranças de um mundo criado para mim, onde a felicidade de ter vivido cada minuto daqueles momentos , me levou para um passado sem volta.
Memórias da minha infância em Ribeirão Preto, na casa da minha avó Luzia.
Suspirando de saudade!
Imagem do acervo da família.
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