Nos meados de 1997, com filho adolescente, comecei a me preocupar com as companhias dele.
Eu acreditava que não bastava a minha educação.
Conhecedora do universo adolescente por ser professora, sabia dos riscos que ele corria e o enchia de cuidados.
Levava à pista de patins, buscava no futebol, enchia meu fusquinha de amigos dele e iam e voltavam todos suados, com suas malas e tacos de hockey.
Minha preocupação não era só com ele, mas também com os que o rodeavam.
Chegava ao desespero pensar que um deles pudesse se envolver com drogas.
Minha preocupação era tanta que preferia usar a minha gasolina, o meu carro, o meu tempo, buscando e levando onde e a qualquer horário que ele e seus amigos precisassem. Eu fazia questão disso. Não admitia que meu filho voltasse ou fosse com outro pai ou outra mãe, que não fosse eu.
Certa vez, apareceu um colega novo, bagunceiro, com notas baixas, usando roupas bem diferentes e aquilo me despertou a curiosidade de acompanhar sempre de perto aquele adolescente.
Descobri que era a quarta escola que ele passava naquele ano e que ele tinha muitos problemas psicológicos.
Imediatamente, fui conversar com a diretora e ela afirmou que o menino tinha envolvimento com drogas e que ela faria de tudo para que ele deixasse o vício, tendo a companhia dos meninos da sala da sétima serie.
Aquilo soou como uma bomba em meus ouvidos.
Percebi que o perigo estava perto e que todo medo de ''contaminação'' estava explícito e que eu teria um longo caminho a percorrer.
Expliquei à diretora o meu medo e o que se passava comigo ao pensar que meu filho poderia se envolver também com drogas.
Eu até passava mal ao pensar na possibilidade. Suava frio, tinha tonturas, tremia e uma dor forte na barriga. Eu tinha pânico em pensar que meu filho pudesse se envolver com este menino.
A diretora me recomendou a leitura de um livro. Disse que eu poderia entender que não era cercando meu filho de cuidados que eu o livraria do vício, se ele o adquirisse.
O livro era O ESTUDANTE, de ADELAIDE CARRARO.
Comprei o livro. Li quase todo em um final de semana.
Expliquei à diretora que não consegui ler o final do livro. Passei muito mal. Precisei ser socorrida ao pronto socorro, pois o corpo não aguentou a pressão que o livro exerceu sobre minha alma.
O menino mudou de escola, meu filho seguiu o caminho juntos dos amigos.
Hoje, depois de 24 anos, encontrei o livro na minha biblioteca e retomei a leitura de onde parei e aquele medo, aquela angustia, aquele arrepio voltou e o sentimento de impotência diante às drogas estavam ainda em mim, adormecidos, mas estavam.
Não consegui ler. O final eu sei, pois a diretora me contou, mas o arrepio na minha alma ainda insiste quando eu imagino o quanto aquele pai e aquela família sofreu...
OBSERVAÇÃO: Ler Adelaide Carraro, mesmo que incompleto, foi uma experiência aterrorizante e indico este livro aos pais e estudantes. Não confie em ninguém, até nos amigos.