Ontem, enquanto dirigia de volta para casa, me deparei com alguns pensamentos que fazia tempo que não me vinham na mente.

Comecei a lembrar o quanto eu fui seletiva, tanto

nas amizades e nos relacionamentos.

Não aceitava amizade de ninguém que fosse muito diferente de mim, isto é, tinha que ser e agir conforme eu me encontrava.

Dificil de entender? Vou explicar melhor; sempre estudei em escola religiosa e quando precisei sair daquele mundinho, me vi perdida entre jovens que não tinham a mesma formação que eu.

Ver adolescentes fumar no pátio da escola era um horror. Eu me sentia mal perto daquelas pessoas. Algumas fumando, outras com roupas estranhas, algumas com cabelos muito diferentes.

Essa diferença me incomodava, já que não usávamos uniforme e sim um avental branco.

As moças beijavam os rapazes quando chegavam e aquilo pra mim era o fim. 

Sentei no pátio e observava tudo com um medo incontrolável. Eu não estava preparada para frequentar um lugar daqueles.

De repente, chega um mocinho, muito amável e pergunta se eu era nova na escola  e começamos a conversar.

Fiz amizade com o Maciel.

Por incrivel que pareça, ele era diferente dos outros.

Era como eu. Foi meu primeiro amigo na escola pública e a partir daí segui meu caminho, selecionando minhas amizades.

Quando resolvi fazer magistério, a adaptação

já havia ocorrido e o meu ar de medo da vida deu lugar ao ar da curiosidade e resolvi também procurar um emprego.

Aos 16 anos, já estava empregada e estudando a noite.

A única coisa que eu não consegui mudar foi a seletividade na hora de me relacionar.

Não gostava de estar perto fumantes, de

quem bebia, de quem era tatuado, etc.

Seria preconceito? Até hoje não sei o que era.

Nunca entendi, até hoje, por que eu ainda não consigo me sentir a voltade ao lado de pessoas que possuem certos comportamentos. 

Eu deveria cuidar era da minha vida, do meu comportamento, mas ficar perto de pessoas que não pensam como eu penso, que agem diferente dos princípios que eu tenho, não dá certo.

Aprendi a selecionar desde criança, aprendi a ponderar tudo, fracionar, porém na minha idade eu acredito que deveria ter evoluido, deveria aceitar tudo naturalmente, mas não consigo.

Muitas coisas que mudaram de lá pra cá, ainda

custam a fazer parte da minha vida e eu não consigo

lidar com o novo diferente e continuo seletiva.

Seria preconceito?